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Este microbook é uma resenha crítica da obra: The power of myth
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-85-7242-008-2
Editora: Palas Athena
Dizem que todos procuramos um sentido para a vida. Campbell não pensava assim. O estudioso acreditava que os seres humanos procuram uma forma de fazer com que as experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância em nosso interior. Dessa forma, sentiríamos internamente algo como um uivo, um grito, um sinal de importância.
Não é possível ter interesse por um assunto só porque alguém diz que ele é importante. Mas é absolutamente normal ser capturado por um tema, uma causa, um propósito. E o mito é o maior responsável por isso. Qual mito é capaz de dar sentido à sua vida?
Um dos maiores problemas do mundo contemporâneo é a falta de familiaridade com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento. Antigamente, o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde o factual não se chocava com a atenção dedicada à vida interior ou com a herança recebida de nossa tradição, seja ela transmitida por Platão, Confúcio, Buda, Goethe e outros nomes que falam dos valores eternos, que envolvem o centro de nossas vidas.
Com a globalização e a correria do mundo moderno, o distanciamento com relação ao aspecto mitológico se acentuou. Nós contamos histórias para tentar entrar em acordo com o mundo e harmonizar nossas vidas com a realidade. Sem isso, tudo parece perder o sentido.
Em todos os mitos, uma voz desponta como salvação quando nos vemos na ponta do abismo. É um momento crucial, em que a verdadeira mensagem de transformação surge no minuto mais sombrio. A luz aparece em meio à escuridão. Quantas histórias, seja na literatura ou no cinema, você não viu com uma trama assim?
Esses mitos nos tocam porque se conectam com nosso íntimo. Todo mundo já se deparou com uma solução inesperada quando tudo parecia estar perdido. Vem do inconsciente, como uma herança dos antepassados.
Temos o mesmo corpo, com os mesmos órgãos e energias que os homens de trinta mil anos atrás. Uma vida humana em Nova Iorque exige passar pelos mesmos estágios da infância à maturidade sexual, pela transformação da dependência da infância em responsabilidade, própria do homem ou da mulher, o casamento, depois a decadência física, a perda gradual das capacidades e a morte.
O ser humano reage da mesma forma quando exposto às mesmas imagens. Por isso, ao trabalhar em mitos de diversos lugares do planeta, a identificação será igual ou muito parecida. Pouco importam a cultura, a religião, classe social e outros aspectos que nos diferenciam. Mitos como o da busca por uma jornada interior de crescimento e aprendizado tocam a todos igualmente.
Dos primeiros contadores de histórias até nossos tempos altamente tecnológicos, muita coisa mudou. Mensageiros animais, enviados por um poder invisível, já não servem mais, como nos tempos primórdios, para ensinar e guiar a humanidade. Ursos, leões, elefantes, cabritos e gazelas estão nas jaulas dos nossos zoológicos.
O homem não é mais o recém-chegado a um mundo de planícies e florestas inexploradas. Não temos mais como vizinhos as bestas selvagens, mas outros seres humanos, lutando por bens e espaço, num planeta que gira sem cessar ao redor da bola de fogo de uma estrela, o sol.
Não vivemos a mesma realidade dos homens das cavernas, nem em corpo nem em alma. Devemos muito às raças caçadoras da era paleolítica. Muitas vidas foram perdidas para que chegássemos ao estágio urbano contemporâneo.
Ainda assim, as lembranças de mensagens dos perigos animais estão adormecidas dentro de nós. Ao nos depararmos com ameaças, sentimos o mesmo tempo de quando trovões indicavam temporais na época das cavernas pintadas. O sentimento de escuridão que causava pânico aos primeiros caçadores segue dentro de nós, provando que determinados comportamentos mudam de aparência, mas seguem tão humanos quanto os primeiros humanos.
A morte, a violência, a perda de um emprego. Qual é a escuridão que habita seu interior e causa o pânico de tudo ruir ao seu redor?
Chegamos à metade deste microbook para falar de um clássico. Joseph Campbell elaborou a jornada do herói no livro O Herói de Mil Faces, esse esquema posteriormente adaptado por Christopher Vogler na obra A Jornada do Escritor.
Vamos conhecer os 12 passos de um esquema sempre bem-sucedido na construção de grandes histórias?
O amor é um assunto vasto. Para entendê-lo em sua plenitude, Campbell começava a falar dos trovadores do século XII, pertencentes à nobreza da Provença, e que depois se espalharam por outras partes da França e da Europa. Eram os poetas daquele tempo.
Toda a tradição trovadoresca foi extinta na Provença, durante cruzadas monstruosas, que associaram trovadores à heresia, que rendia grandes punições. Com isso, os trovadores e sua transformação da ideia do amor se viram envolvidos na vida religiosa, de uma maneira muito complicada.
Antes, eles eram interessados na psicologia do amor. E foram os primeiros, no Ocidente, a pensar no amor do modo como ainda o fazemos, uma relação entre duas pessoas.
Antes disso, o amor era simplesmente Eros, o deus que excita o apetite sexual. Isso não corresponde à experiência do apaixonar-se, da maneira como os trovadores a compreenderam. Eros é muito mais impessoal do que apaixonar-se. O amor é algo pessoal, que os trovadores reconheceram.
Já Eros e Ágape são amores impessoais. O primeiro é um impulso biológico, o entusiasmo entre órgãos, sem o fator pessoal. O segundo é o “ama o teu próximo como a ti mesmo”, mais espiritual. Está mais relacionado à compaixão do que à paixão.
A partir dessa visão menos romântica do amor, com menos interesse pelo aspecto psicológico da atração pessoal, compreendemos como esse sentimento tem um padrão muito distinto do que aquele dos trovadores. Uma pena.
Todo indivíduo que teve uma experiência misteriosa ou transcendental sabe que há uma dimensão do universo que não corresponde a uma avaliação racional, feita pelos sentidos. Podemos pensar em divindades ou em qualquer outra forma metafísica. É quando, diante da beleza do pôr do sol ou de uma montanha, você para, suspira e exclama com a impressão de estar participando de uma divindade.
Esse momento de participação envolve uma percepção da prodigiosa e pura beleza da existência. As pessoas que vivem no mundo da natureza experimentam isso todos os dias. Elas sentem o reconhecimento de algo muito maior do que a dimensão humana. Nossa tendência, contudo, é personificar essas experiências, como se as forças naturais estivessem sempre à disposição.
Em nosso modo ocidental de pensar, Deus é visto como fonte última ou causa das energias e do mistério do universo. Mas na maior parte do pensamento oriental, e também no primitivo, os deuses são manifestações e provimento de uma energia que é, na verdade, impessoal. Não são a fonte dessa energia, mas o veículo dela.
E a força ou qualidade da energia por eles representada determina o caráter e a função do deus. Há deuses da violência, da compaixão, de outras habilidades para unir o mundo invisível ao visível, além dos que protegem reis ou nações durante uma guerra.
São personificações da energia que rege o mundo. Mas permanecem um mistério. Como todos os mitos nos rondando, moldando sociedades e mesmo assim sendo ignorados por tanta gente. Quais são seus mitos preferidos?
Mesmo depois de tantos anos após sua morte, Joseph Campbell tem muito a nos ensinar. Ao destrinchar como os mitos moldam o comportamento de sociedades há séculos, o estudioso mostra o quanto é importante interpretar o mundo para além apenas da racionalidade. Afinal, mitologias diversas encontram paralelos em sua concepção e merecem ser bem estudadas para uma melhor compreensão das ações de povos tão distantes, mas tão parecidos.
Outro bom livro sobre o mundo contemporâneo, escrito com base em diálogos, é A coragem de ser feliz. Vale a pena dar uma conferida.
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Joseph Campbell, autor do presente livro, foi um mitologista, conferencista, professor e escritor. Ele ajudou a ver gerações a verem além da razão, recuperando ritos, metáforas e imag... (Leia mais)
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